Entre os inesperados (bons) da vida, há os esperados e
desejados. O Piodão, foi um desses. Imaginei-o tantas vezes na forma de um
trail, que correria no verde para chegar à paleta de xisto. Adiei para um ano,
depois para outro e mais outro. Adiei para lá chegar este fim de semana. As
curvas e contra-curvas da serra do Açor começam a tornar-se familiares à medida
que as nossas incursões avançam nos seus meandros. Começar por desvendar a Foz
D´Égua, na confluência de duas ribeiras converge também a nossa atenção para aquele
enquadramento mais comum, mas a minha atenção não cessou também de se expandir
à grandiosidade das encostas que se elevam ao céu, como se quisessem separar
este detalhe do resto mundo. E é assim que eu o sinto, num mundo à parte,
daquele em que eu própria vivo. Daqui para Arganil para descansar e ansiar a continuidade
deste alheamento e fusão com as particularidades desta serra. E continuou pela
manhã aproximando o pé da praia fluvial de Coja, e molhando-o de forma
irreversível na Fraga da Pena. Perseguir as sucessivas cascatas, assistir à
coragem de quem mergulha por mim nas àguas um-tudo-nada frescas. Regressar por
outro trilho com vista singular para ambas as vertentes. O meu mundo comum fica
mais pequeno comparado com aquilo que a minha vista alcança. Até que alcança
novamente o Piodão, numa aproximação mais enamorada. As curvas permitem retardar
aquilo que já sei ser uma certeza. O encontro. Ao subir o primeiro degrau,
imagino-me uma anciã no esforço que faço para lembrar como seria em jovem. As
portas e janelas trazem vizinhos e conversas à boca-pequena no intervalo da
lavoura e dos lavoures. Encantador o Piodão. Descer novamente para a Foz D´Égua,
e descer ainda mais um pouco às aguas num tímido mergulho. Não podia regressar
sem experimentar como apesar de frias, são límpidas e de uma energia quase
intocável que trazem do centro da terra. É com essa energia que voltamos a
subir ao topo da cordilheira da Serra do Açor. A tal, que se torna familiar,
neste mundo à parte, neste mundo onde já ganhei uma estima pela eólica 34. Porque no meio de tantas esta sopra-me sonhos que se tornam realidade.
“(...) A Imagem só pode entrar na corrente da consciência se for ela própria síntese e não elemento. Não há, não pode haver imagens dentro da consciência. Mas a imagem é um certo tipo de consciência. A imagem é um acto e não uma coisa. A imagem é consciência de alguma coisa.” in "A Imaginação" de Jean-Paul Sartre
domingo, 31 de julho de 2016
terça-feira, 26 de julho de 2016
Na véspera de deixar de ter tempo para estas coisas, consegui levantar os pés do chão. Um shirsasana muito imperfeito, que me deu para rir e chorar de espanto.
Em vez de me beliscar para ter a certeza que era verdade, cheguei a casa e fiz mais uns quantos sozinha... e em 10 segundos (que é o tempo de tirar uma selfie-prova-do-acontecimento)...
segunda-feira, 25 de julho de 2016
Esta segunda-feira, durante um despertar lento, tive o seguinte pensamento: "Pronto acabaram-se as férias, tenho de regressar ao trabalho..."
São Bernardino || foto 3 do g.
a saber:
Primeiro, não estive de férias
Segundo, fiz muitas coisas (boas) este fim de semana, incluindo as limpezas.
domingo, 17 de julho de 2016
Ainda bem que não fechei a porta de casa sem antes voltar atrás para ir buscar um casaco. Nunca se sabe. Saímos para fugir ao calor e descemos no mapa 15 graus centígrados. Quando regressei tomei banho sobretudo para tirar o protector solar que havia colocado com antecedência. Dei por mim tão feliz porque tinha ido agasalhadinha para praia e por não ter nenhum escaldão que para a próxima até fiquei com vontade de levar mais uma sweat...
Praia de Cambelas || 1, 4, 5 fotos do g.
sábado, 16 de julho de 2016
Sábado de manhã...
é o terceiro sábado que prolongo aqui
sexta-feira, 15 de julho de 2016
domingo, 10 de julho de 2016
Praia do Porto Dinheiro || 1,2,4 fotos do g.
"Qualquer viajante conhecerá esta verdade elementar: o mundo é simultaneamente demasiado grande e demasiado pequeno. Questão de escala."
Carlos Vaz Marques in prefácio de Sibéria de Olivier Rolin
sexta-feira, 8 de julho de 2016
quinta-feira, 7 de julho de 2016
campo || fotos do g.
"...o caminho para a unidade acontece quando tu aceitas a tua variedade..." a professora Marta Cóias
(pela expressão de toda a variedade que existe em ti começas a sentir-te mais uno)
domingo, 3 de julho de 2016
fotos da S.
Esta foi a minha terceira participação no Trail das Zagaias
e a primeira prova deste ano. O termo “prova” nunca fez muito sentido para mim,
especialmente tratando-se de trail. São sempre oportunidades de fazer trilhos
em segurança, desfrutando de paisagens belíssimas e de estar em contacto com a
natureza. Talvez porque agora me levem a fazê-lo num registo mais calmo com
tempo para apreciar, deixei que se passem seis meses sem participar em qualquer
prova de trail (estrada nem se fala, que não tenho qualquer motivação). Na
sequência de nos termos divertido no ano passado, nesta mesma prova, resolvi
desafiar a S. para participarmos novamente. Equipa que ganha não se mexe. Nos
últimos seis meses corremos muito pouco comparativamente com a frequência de
outros tempos e a 15 dias da prova fizemos o primeiro “treino” de dois em
condições de piso parecidas. Quisemos ver como nos aguentaríamos a fazer 22km a
partir de uma amostra de 10-12km. Fizemos um pacto de não ter expectativas (a
não ser terminar a prova em 3 horas), de fazer a coisa nas calmas, que a ideia
é sempre divertir-nos, garantindo que não correríamos na hora de maior calor e
que chegaríamos a tempo para o almoço. Partimos para Mação com a descontração
do costume e a razoável para quem dormiu mal e teve de despertar às 6h20 de um
domingo. Chegando lá e conhecendo os cantos à casa, não demoramos a ir levantar
os nossos dorsais e a preparar-nos com os cintos de hidratação para a manhã que
se previa ser das mais quentes dos últimos dias. Dali seguimos no autocarro da
organização para a Praia do Carvoeiro. Coincidência deste início de prova ser
justamente onde o ano passado a terminámos. Fomos conhecer a praia antes de
regressarmos a casa depois da prova. O autocarro de atletas circunscreveu as
serras descendo (repito, descendo) da vila Mação, onde seria a chegada, até à
praia. A minha repetição pressupõe uma conclusão do que nos esperava, não por
estrada mas por trilho! Subir. Subir.
Começamos com o calor numa fasquia um pouco mais alta que o
previsto e que foi aumentando até à nossa chegada . O calor deixa-me à beira do
fanico e segui sempre a fazer gestão do meu esforço para ter a certeza que
chegava sem ter sofrido muito, Mas para que é que eu me meto nisto?! Felizmente
reconheci na resposta a esta pergunta a magia de não controlarmos a nossa vida
e não sabermos o que vem a seguir. Reconhecesse isto com particular satisfação
quando somos surpreendidos pelo “tão bom”. E o “tão bom” foi sempre que o calor
aliviou pela passagem por trilhos de vegetação mais densa que nos fazia sombra.
Foi sempre que apreciámos e usufruimos dos benefícios da aromaterapia pelas
suaves essências de pinhal ou eucaliptal. Foi sempre que nos via rodeada de
serras. Foi sempre que escutávamos o som da água a correr nas ribeiras. Foi
“tão, tão bom” sempre que não perdemos a oportunidade de nos molharmos ou
mergulharmos na água. E neste terceiro trail tirei a barriga de misérias de
mergulhos nas ribeiras.
Na primeira a água mal nos tapava os artelhos mas isso não nos
impediu de nos molharmos com a ajuda das mãos. Já a roupa havia secado quando
mandavam as fitas que passássemos ao lado de uma ribeira de água de cor límpida
formando como uma piscina. A S. sugeriu um mergulho e eu nem pensei duas vezes.
Desviamo-nos do percurso e mergulhámos até ao pescoço. Antes de retomarmos o
trilho, ainda em êxtase pela frescura que me tinha tomado, observei com o meu
ar tolo os cinco simpáticos participantes que nos passaram à frente imperturbáveis
pela piscina natural. Pensei, “mas só nós é que gostamos disto?, Ana, deixa-os
passar e não os atrapalhes na pressa de pôr um pé à frente do outro até à
meta!”. Daí a uns metros ainda recarregamos energia num abastecimento de água
fresca, ou pelo menos mais fresca que o chá que levávamos à cintura. Tivemos
ainda laranja, banana, batata frita e marmelada para recarregar energia. Voltamos
a aquecer, a roupa secou parcialmente e aproveitando a passagem ao longo de uma
ribeira, entre escorrega aqui e equilibra-te ali, por querer fomos novamente ao
banho de água até ao pescoço. Seguimos por mais uns quilómetros e tal como
antes, nem os calções, nem as sapatilhas estavam enxutas e nós a passar ao lado
de um rio com um enorme espelho de água a sorrir-nos. Sendo nas proximidades de
um abastecimento, informamo-nos onde seria mais seguro ir ao banho e aí fomos
nós, entrar, mergulhar até ao pescoço e seguir adiante. Daí até à meta foi
quase sempre a subir, quase sempre a andar e sempre com muito calor. As pernas
fraquejaram, denunciaram a falta de treino, visto que às vezes até queria
correr mas parecia que tinha músculos de madeira.
Três horas e vinte cinco minutos depois da partida chegámos
à meta. Ou melhor à primeira meta, pois para mim há claramente uma segunda, que
é o almoço incluído no evento. Um almoço para todos os atletas, numa
barraquinha da feira da Mostra de Mação. Para isso fomos primeiro ao banho, de
chuveiro, onde a pressa também não nos tocou. Um agradecimento às pessoas que
tomando conta dos balneários, permaneceram à espera que saíssemos para fechar
os mesmos. Depois foi a passo tranquilo que chegamos ao recinto da feira. Gosto
muito deste momento. Sabe bem pelo ambiente, pelo espaço, pela comida e pela
simpatia de quem nos serve garantido que não nos falta nada. Chegámos, já
estavam todos no prato principal. Mas o “tão bom” continuou a fazer das suas.
Encontrámos dois lugares lado a lado numa mesa e um responsável da organização
garantiu que também ali experimentássemos tudo como se tivéssemos chegado a
horas. Começamos pela tábua de finas fatias de enchidos e produção local. Arrisco-me
a dizer que é o único dia do ano em que como isto com satisfação. Acompanhado de
pão caseiro de trigo e ou de milho e uma imperial é com certeza o momento em
que atravessei a segunda meta. Dali para frente provei a sopa, passei ao prato
principal, sempre delicioso, com fartura de tudo e onde até gosto do serviço de
loiça que confere ainda um ambiente mais castiço e caseiro à festa. Pelo
terceiro ano seguido é também o primeiro dia de comer melancia fresca e boa à
sobremesa. Um conjunto de mimos que acresce ainda mais a certeza que esta prova
é uma experiencia a não perder.
Obrigada à S. mais uma vez pelo companheirismo e amizade e
aquela dose de loucura qb que a faz alinhar comigo, esperar por mim e ainda
fazer-me acreditar que para o ano “nós lá”!
É com a distribuição dos prémios que acaba a festa. Diz-se à
boca pequena que ganhámos o de quem mais se divertiu. Diz a S. que disso não
haja duvida. Eu só digo uma coisa…
“tão bom”…
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