quinta-feira, 30 de junho de 2016



foto de há uns tempos num "ensaio geral" em casa...

Sempre gostei do sabor do café mas nunca tive hábito nem o vício. Houve um tempo que bebi somente “café das velhas” (café da borra de cevada) em casa dos avós. Depois a minha mãe começou a fazer em casa mas nunca sabia tão bem. Acho que era porque não condizia com as canecas de design contemporâneo, com a cafeteira alumínio liso, nem com uma cozinha sem lareira. Cheirava e sabia a antigo. Perdemos as pessoas e com elas o ritual que se tornava doloroso na sua ausência.
Entretanto descobri o impulso de desejar um café. Começou por ser a meias com o meu pai no fim de alguns almoços. Sempre com muito açúcar. Depois com o G. integrando essa lógica do seu mundo. 
Sentir que nem sempre cafeína me deixava o coração a mil, abriu uma janela a esta experiência. Andei ali a espreitar por detrás da cortina e hoje acho que me debrucei-me no parapeito. 
Entrei sozinha numa pastelaria pedi um café cheio e uma bolacha caseira. Levei tudo para uma mesa e sentei-me ali a degustar o momento sem outro açúcar que não fosse o da bolacha. Enquanto isto observei as pessoas que passavam na rua. Dos demais que entraram e saíram da pastelaria, acho que ninguém se apercebeu da minha estreia na postura. Tantos anos a ver os outros sincronizados nesse ritual massivo não terá sido em vão na minha encenação. Não terá sido um primeiro acto isolado mas não cederei facilmente à banalização do gesto.


sábado, 25 de junho de 2016




Há uns meses deixei de cortar os cabelos brancos que me vão aparecendo. Havia nesta preocupação algo que não era meu e resolvi experimentar não me preocupar. Está a correr bem apesar nem sempre ser indiferente ao facto de serem indisciplinados e gostarem de dar nas vistas. Ocultava-os e agora acostumamo-nos todos a vê-los. Ajudam-me a convencer os outros dos trinta e sete anos que faço hoje. Dos que nunca me querem dar mas que já nada os tira de mim. Alivio-os eu na forma como me permito viver não preenchendo o arquétipo de uma senhora da minha idade, experimentando a minha realidade de uma forma livre desses preconceitos. Viver.
Neste dia sinto uma particular gratidão pelas coisas boas que acontecem, que me equilibram na minha perda. Celebro a vida, em mais um ano a abrir caminho por dentro para aprender mais sobre fora. Celebro o amor, a presença e amizade de quem me quer o bem.
Num ano em que troquei a minha idade pensando ser um ano mais velha, à sensação de que celebro duas vezes a mesma idade,  só posso somar mais um ano de ser feliz.

Praia do Farol || fotos do g.


segunda-feira, 20 de junho de 2016


solstício de verão

strawberry moon


[23h45] por coincidência postava esta foto às 23h34, hora prevista do solstício de verão. Depois de publicar corri para a janela da cozinha, para não perder a oportunidade de estar presente.

Fui recebida com uma estrela cadente...


domingo, 19 de junho de 2016



Voltar à Arrábida é voltar para descobrir mais. Reiterar as razões do primeiro encanto que me lançou. Conquistou-me na sua paleta de verdes e azuis e na proximidade com a divina beleza do mar. Converte-me sempre numa privilegiada, mesmo que resmungona, durante um trilho apertado pelos ramos e permanentes arranhões que senti nos braços e pernas.
Mas anteriormente, privilegiada, pelo mergulho na agua transparente da Praia Alpertuche. A praia é do tamanho ideal para dois mas estavam mais. Depois de interiorizar essa proximidade e de escolhermos um lugar com um perímetro razoável de privacidade, sentei-me numa rocha de costas para o sol quente e com os pés mergulhados na água fria. O contraste não ajudava à decisão de avançar para mar, por isso demorei-me nesses repetidos gestos de adaptação do corpo à nova temperatura. Mergulhei uma e outra vez e voltei ao porto seguro da rocha que me permitia apreciar desde a limpidez da água à magia das suas cores que entre a cintilante ondulação. Apreciar como cada um, no seu perímetro, vivia a mesma tranquilidade, movendo-se vagarosamente parecendo retardar a velocidade de rotação da terra.

Saímos dali igualmente em câmera-lenta a tempo de um trilho que nos levaria para a Praia dos Coelhos. Foram oitocentos metros de arranhões por um disfarçado trilho que nos conduziu a pontos de reencontro com o mar e com vistas sobre as praias do Portinho da Arrábida e a Praia da Anicha. Chegámos quando os últimos se estavam a ir embora. Afaguei os arranhões na brisa quente enquanto vi o céu ficar rosa. Olhei-o disfarçando o quanto gosto de o ver assim. Regressamos por um caminho mais directo ao ponto de partida. Ao eterno ponto que marca esta nossa aventura, a ansiedade do começo e a sensação de realização e satisfação do regresso.







fotos do g.


sábado, 18 de junho de 2016


Sábado de manhã...

era uma vez uma luz...
there was once upon a light...
gosto desta luz e destes dias compridos, fazem-me crer que a vida cresce com eles na mesma razão da sua intensidade


segunda-feira, 13 de junho de 2016



Pouco depois de me ter explicado que a paisagem não tardaria a mudar, comecei a visualizar os seus argumentos. Serpentear pela cordilheira da serra do Açor, no degradé que as montanhas desenham ao nosso redor, rodando sobre elas os moinhos de vento dos tempos modernos. Depois de passar por um dos pontos mais altos, descemos para entrar na aldeia de xisto do Fajão ao som dos bombos. Por instantes infiltramo-nos na festa e vesti a alma desta ruralidade, atenta ao burburinho e às frases soltas. Frases que entretêm o meu imaginário num mundo que me cativa. Descemos mais um pouco para o primeiro banho fluvial no Poço da Cesta. A água estava fria, mas nós estávamos com calor e com vontade de fazer parte do cenário. Num vagaroso mergulho, deixei-me ir com as águas do Rio Ceira de uma pedra para a outra. Por fim a pedra quente reconfortou-me a pele e detive-me de frente para o sol num tempo que se prolongou para além daquele que o relógio marca. Saímos dali pelo mesmo trilho mas desviamos depois por um outro que nos levou paralelos á margem do rio, que é como quem diz, que seguimos nessa perfeita combinação de verde, montanha e água. Paramos muito para ver e registar. Trazer connosco um pouco desta beleza de que nos cercamos. Depois de dois dedos de conversa com uma senhora, a quem me esqueci de perguntar o nome, dona de um rebanho de cabras que pastavam nas encostas e de dois cães meigos que se prostraram aos nossos pés, regressamos para respirar mais fundo e tirar mais fotos. Escurecia quando chegámos ao carro, caiu a noite antes de sairmos da serra e caiu sobre mim um cansaço que me impedia de manter os olhos abertos e rebobinar os pormenores de que não me quero esquecer.

Sou grata, porque a maior parte das vezes o fim-de-semana é o início que qualquer coisa boa. De um tempo sereno e urgente, em casa ou fora mas sempre com detalhes vários em que respiro devagar, penso baixinho e observo muito.








fotos do g. e moi

sábado, 11 de junho de 2016



Sábado de manhã...

O primeiro trail da linha de água,
As primeiras sardinhas ao almoço,
O primeiro treino do caracol ao lanche,