foto de há uns tempos num "ensaio geral" em casa...
Sempre gostei do sabor do café mas nunca tive hábito nem o vício.
Houve um tempo que bebi somente “café das velhas” (café da borra de cevada) em
casa dos avós. Depois a minha mãe começou a fazer em casa mas nunca sabia tão
bem. Acho que era porque não condizia com as canecas de design contemporâneo,
com a cafeteira alumínio liso, nem com uma cozinha sem lareira. Cheirava e
sabia a antigo. Perdemos as pessoas e com elas o ritual que se tornava doloroso
na sua ausência.
Entretanto descobri o impulso de desejar um café. Começou
por ser a meias com o meu pai no fim de alguns almoços. Sempre com muito açúcar.
Depois com o G. integrando essa lógica do seu mundo.
Sentir que nem sempre cafeína me deixava o coração a mil, abriu uma janela a esta experiência. Andei ali a
espreitar por detrás da cortina e hoje acho que me debrucei-me no parapeito.
Entrei
sozinha numa pastelaria pedi um café cheio e uma bolacha caseira. Levei tudo
para uma mesa e sentei-me ali a degustar o momento sem outro açúcar que não fosse
o da bolacha. Enquanto isto observei as pessoas que passavam na rua. Dos demais
que entraram e saíram da pastelaria, acho que ninguém se apercebeu da minha estreia na postura. Tantos anos a ver os outros sincronizados nesse ritual massivo não
terá sido em vão na minha encenação. Não terá sido um primeiro acto isolado mas
não cederei facilmente à banalização do gesto.