Desta chegamos à hora a que costumamos estar a partir. Assim
tivemos mais tempo para nos distrairmos. E como nós precisamos dele…
Se num momento estava a sair de casa, no outro dei por mim a
correr atrás de um pequeno rebanho de cabras. Antes de pararmos já a beleza dos
campos me vinha a conquistar. A combinação de afloramentos rochosos e de verde trazem-me
à memória a bela vila de Monsanto e esta
paz em que tão bem me disperso. O dia esteve maioritariamente nublado e frio
mas fomos recebidos com uns raios de sol em que por momentos ainda serrei os
olhos para ver o castelo no alto. Foi para lá que nos apressamos a caminhar
entrando nas ruelas de Marvão. Estreitas e inclinadas e repletas de detalhes a
que devemos estar atentos. Não precisamos de procurar muito para os encontrar.
Sucedem-se e é bom reparar que quem os pensou não o fez em vão. Vimos muito e
alguém fotografou mais do que eu, que fiquei sem bateria muito cedo. Moradores
vimos poucos, mas visitantes eram agradavelmente num numero com que gostei de
me cruzar. Vale a pena esta perdição pelo emaranhado das ruas e atrasar a
chegada ao castelo. Daí e do seu topo a vista não cortou mais a respiração
porque a neblina não deixou. É daquela dimensão que não há máquina de capte ou
memória que grave em pleno. O meu coração cativa essa sensação do impacto que tenho
perante tamanha grandiosidade esperando que no imediato essa energia me cure
dos dias não belos desta vida. Regressamos ao carro pelo caminho mais curto mas
não proporcionalmente mais rápido. É que nós distraímo-nos muito e mais, se
temos com que fotografar. Foi com um céu cor-de-rosa (vá se lá saber se por
acaso) que nos despedimos de Marvão na certeza de que chegaríamos a Castelo de
Vide com ele de um azul muito escuro. Noite. Entramos na praça principal ao som
do burburinho das suas gentes. Certamente do que restou de um dia em que por
ali se jogou o carnaval. Haviam mascarados ainda a confraternizar pelos bares e
cafés. Havia cheiro a pipocas e farturas e um carrocel a rodopiar póneis de
plástico engalanados ao som de versões dos Dire Straits. Podia ter sido ao som
do Walk of life que não nos demoramos
por ali pois tínhamos mais castelo e judiaria para visitar. Novamente
encontrei-me confortável a caminhar por mais ruelas estreitas e muito bem
cuidadas. O G. avisou-me para levantar a cabeça e observar bem à volta pois
mais uma vez os pormenores seriam muitos e nada me devia escapar. Nem me
escapou esse conforto de ruas que apesar de desertas denunciavam na luz refletida
das vidraças de muitas portas, pessoas que por ali habitam. Confesso o
observava com alguma nostalgia e se escutava barulho vindo do seu interior
quase que me sentia uma mendiga de alguém que viesse à porta e nos convidasse
para entrar. Mas isto devia ser eu perturbada pelo frio que estava a sentir.
Fui parcamente agasalhada e em certos momentos só pensava como seria estar
quentinha dentro de uma daquelas casas. Tive muito frio mas também gostei
muito. G. obrigada. Por ali acho que só me escapou a beleza de visitar aquela
terra de dia, para assim substituir a paleta de amarelos alaranjados a pretos,
por brancos nas paredes cuidadas, por bejes das cantarias trabalhadas, por
muitas cores das portas com as suas vidraças e gradeamentos com desenhos vários,
por laranjas dos vasos, por verdes das plantas e se fosse primavera por muitas
cores das flores.
Aqueci fisiologicamente com uma paragem para um chá de lúcia-lima bem quentinho, que a alma, essa, já o estava com mais estas duas
visitas que fazem do meu mapa interior um lugar com mais relevos a registar.
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