Porque o dia continuou melhor quando
recomeçou inesperadamente a meio.
Num trilho mais pequeno e calmo.
Com tempo para olhar e escutar, os passos e a paisagem. Na volta, nestas e nas
outras, até a mim me vejo e penso “como é que vim aqui parar?”.
Um anfiteatro por si só já me
provoca sempre uma sensação ambígua entre a partição e a continuidade com a
grandeza, quer esteja no topo do auditório ou no centro do palco. Na Fórnea não
é diferente, acrescida da consciência de estar perante um fenómeno geológico.
Avançar aos poucos no sopé da confluência das várias encostas, eu pequena
perante a magnitude das vertentes, encantada pelos detalhes, confiante e
curiosa na exploração guiada. Seguir ao longo da ribeira e chegar à cascata que
não estava na plenitude do espetáculo que nos podia oferecer. A falta da chuva
e a temperatura quente destes dias, permitem-me, por um lado, experimentar o
verão tranquilo que me faltou mas privou-me do som da água a percorrer a
ribeira e a cair em cascata nessa cortina natural. Não sendo longe, posso
regressar para assistir, na primeira fila, ou em qualquer lugar que me apeteça,
na certeza que será sempre privilegiado. Continuar e subir ligeiramente por um
trilho mais estreito a caminho da gruta da Cova da Velha. Olhar para cima,
olharte à volta e pensar novamente “como é que vim aqui parar?”. Por agora a
gruta também está seca pelo que pudemos entrar e eu aventurar-me pela primeira
vez no seu interior. Subir umas rochas, até ao espaço confinado a um só,
desviando-me da maior aranha que já vi e incentivar outro curioso a juntar-se a
nós. Procurei ver o que um dia destes a água não tardará a esconder e fiquei-me
pela imaginação dessa galeria que prosseguirá no interior da serra por uma
fenda que já só alcancei com a luz da lanterna. Ousei apontar o foco ao morcego
que desafiando a gravidade repousava serenamente.
No regresso, já refeitos da
ansiedade camuflada de sentido de humor, pausámos mais, em particular junto das
figueiras selvagens, que eu, se vejo uma oportunidade de comer verdadeiramente
biológico não me faço esquisita e provo.
Depois de uma hesitação na exploração
de outra gruta decidi(mos) pelo regresso que viria a ser
interrompido pela super lua a emergir no horizonte. Grande. Os meus olhos
viram-na grande e linda. Se é ilusão a sua grandeza então direi que aqui vale a
pena ser enganada pelo meu próprio cérebro. Não faltaram as fotos, umas mais
técnicas que outras, todas para registar esse momento de maior proximidade à
lua e às coisas boas da vida que me fizeram ir ali parar…