sexta-feira, 1 de agosto de 2014



reconheço que há coisas em que por muito que viva e aprenda, sou assim e pronto... e depois do "pronto" repare-se que usei três pontos e não um ponto final, porque permanece tudo em aberto. O primeiro impulso pode ser o de "ser assim" mas a consciência de o ser e eventualmente não o querer, permite-me ajustar o meu comportamento, reavaliar a minha postura, conviver saudavelmente entre o primeiro impulso e aquilo que ainda posso fazer de diferente. Falo do apego e do desapego, à vida, às pessoas e neste caso, aos objectos.

tenho um carro há 10 anos, que quando me foi oferecido já contava com 11. recordo-me do momento em que o meu pai abriu a porta da garagem e eu pensei "o que é isto?!". uma semana antes a propósito de nada em conversa com uma amiga na cidade onde estudava, proferi as seguintes palavras, "eu?! ter um carro vermelho? nem que me oferecessem!!". É por estas e por outras que às vezes tenho medo de abrir a boca. Eis que diante dos meus olhos estava um carro vermelho e confesso que até hoje me incomoda aquela cor... não combina com discrição e pronto. (ponto final). Por dentro os acabamentos cuidados, básicos discretos e confortável, mas há uns três anos para cá que tem uns achaques e no primeiro tive que decidir entre comprar outro ou mandar arranjar o meu e decidi-me por ele. Agora o meu "ZX" acumulou demasiados problemas. Quando saía nele não estava certa de que chegaria ao destino, tinha de ir em modo alerta. Comprado por 500,00€ em excelente estado de conservação e tendo em conta o que me proporcionou não precisa de se justificar e mais a mais até levava a bicicleta lá dentro. Era engraçado passar pelo antigo dono e ver a cara de satisfação ao ver passar o "seu" carro. Foi um carro estimado, apesar de eu ter batido com ele três vezes (praticamente parada), só que o upgrade já não compensa.
Não esqueço que ele entra no capitulo da minha conquista por autonomia, talvez por isso me custe vê-lo partir, parece que as memórias passam ainda a ser mais memórias, pois deixam de materializar-se pela existência dele, mesmo que se trate de um objecto. É um apego. Aprendi sobre o desapego da pior maneira e numa das perspectivas mais profundas e no fundo libertar-me de um carro são favas contadas... 
mas custa/ram umas lágrimas deixá-lo no abate e ver o meu "ZX" ser levantado por um empilhador...


3 comentários:

koklikô disse...

Percebo bem a sensação. o meu 1º carro era um "AX", também vermelho(e já veio para mim em 3ª mão) mas gostava muito dele e custou-me dizer-lhe adeus mas o maroto começou a deixar-me mal demasiadas vezes :)

Ana Fernandes disse...

sim Dulce, tivemos uns maquinões semelhantes :), mas agora... levou outro rumo. são muuuuitas memórias associadas a ele e custou/a esta sensação de desfazer-me dele.

Joana disse...

O que eu chorei quando o meu pai vendeu a nossa Diane! Ainda hoje, 25 anos passados, me lembro da matrícula... Um só meu nunca tive, nem quero, e o rapaz cá de casa recebe um novinho de 4 em 4 anos. A esses ficamos muito gratos mas despedimo-nos deles sem sentimentalismos :-)