sábado de manhã...
1.
2.
1. “Tive a ingenuidade, meu caro amigo, de lhe prometter cartas, relatando as minhas impressões de viagem e aqui me vejo agora afflicto, sem atar nem desatar, n’um desespero de impotente. Reconheço-me incapaz de escrever qualquer coisa de geito, meio dúzia de linhas que prendam a atenção dos seus leitores, obrigando-os a uma excursão por ahi fora, sem destino, a admirar coisas novas, a espalhar maguas antigas. (…) Um expediente me ocorre, que não deixa de servir-me: - Vou metter-me entre lençoes, e como a noite é conselheira – La nuit porte conseil – farei o que ella me aconselhar, succeda o que succeder. Ora pois… O que não tem remedio, remediado está, e visto ser indispensavel que eu masse os leitores do seu jornal com as minhas impressões de jornadeiro, darei principio á tarefa, com a promessa de ser breve, como se usava antigamente em sermões pifios de aldeia. E porque é de boa praxe começar pelo principio, informarei desde já que tendo saído de Lisboa por voltas do meio dia, cheguei á capital de Hespanha ás dez horas da manhã do dia seguinte. - Nada mais, e nada menos, de vinte e duas horas em caminho de ferro, principescamente encaixotado n'uma carruagem de primeira classe, assim á laia de Shah da Persia, a viajar incognito. Nenhuma ponte abateu sob o peso da minha importância; o comboio não descarrilou, nem foi assaltado por ladrões. A poesia das viagens, meu caro amigo, é hoje uma simples flôr de rhetorica, uma tradição de tempos idos - bons tempos em que uma pessoa não podia aventurar-se de Lava Rabos até Lisboa sem deixar feito o testamento. Corria-se o risco de ser assaltado por ladrões, lá pelo meio do caminho, e se alguns se contentavam com a bolsa, outros tiravam-nos a bolsa e a vida. Por maneira que a viagem era uma serie de inquietações, o sobresalto de algumas noites e dias, sempre á espera do classico faça alto! sahido detraz de uma moita, e duas ou tres espingardas visando a nossa carcassa, promptas a fazer fogo. Mas agora… ”
de Brito Camacho em Impressões de Viagem - Cartas a um jornalista,(1913), Ed.2, Livraria Editora - Guimarães & C.ª, Lisboa
(a mim já me prendeu a leitura)
2. "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma"(Lei de Lavoisier)... e por agora está tudo dentro de um saquinho de papel